sexta-feira, 7 de maio de 2010

Textofonia 5: Trajetória de uma canção

Sou um. Somos muitos. Invisíveis. Perturbadores. O futuro. Sou agora. Aqui. Somos sempre. Em qualquer lugar.

A canção que faz ritmo ao meu coração pode tocar em muitos outros semelhantes, quiçá em todos. Hora ou outra é possível que duvide de um verso, que tire um advérbio de negação, que altere o gênero do ser amado, que inverta a posição dos jogadores, que a troca de uma palavra faça maior sentido... Quando o sol não entra pela janela provavelmente segura as cordas, se desfaz das baquetas ou tampa as teclas.
Quando a melodia não fizer mais sentido rasgue as partituras, as fotos, as poesias que compôs, ou as esqueça numa gaveta. Tanto faz. Quando descobrir novos acordes, toque outra música. Inove, invente, imite. Transmita a mensagem que achar melhor, desde que a possa sentir.
Se perder o público - a banda, o ritmo ou a letra - lembre-se de que a canção é sua. Que você pode escrever o que quiser. Que se ninguém mais sentir, você ainda poderá sentir. Não importa se os demais só ouvem uma bonita canção, é seu coração quem precisa ser acolhido. Não estranhe se ninguém tiver a mesma sensação, uma música não tem explicação.
Se falar da sombra das árvores sendo outono... Se agradecer o sol enquanto chove... Se citar os pinheiros enfeitados em maio... Chamar-te-ão louco. Seja um louco feliz! A sanidade dos outros está em sobreviver à escolha do comum, optar pelo mais fácil quando poderia preferir o mais valioso. O que era enfermidade hoje é a cura. Na Casa Verde só permanece o doutor, lembra?
Ninguém agrada a todos, nem mesmo sua honesta canção. Assim como eu, assim como todos os demais, temos fases em que somos os preferidos, e outras em que somos excluídos. Importe-se em cantar de coração. Mesmo que desista no caminho. Se for ao chão, não tema, estenda a mão. Escrevemos juntos o resto.

Ana Kita


-> Embora a inspiração tenha vindo de "O Exército De Um Homem Só " - Engenheiros do Hawaii, peço perdão por usar palavras que podem ser vistas tão idealistas de jeito tão subjetivo. É apenas uma das visões que podemos ter perante essa poética música.

Obs.: "Na Casa Verde só permanece o doutor" é uma referência ao conto "O Alienista" de Machado de Assis.

2 comentários:

  1. eu gosto dessas tuas referências e relações entre textos e músicas e imagens e afins :)

    ficou lindoso o novo layout do blog. e como tu escreves!! muito muito legal isto!

    beijo!

    ResponderExcluir
  2. hehehe
    Obrigada, penso que repertório seja a alma dos textos envolventes. Como falamos no Círculo, é possível ler sem conhecer as citações, mas quando as entendemos a leitura tem mais sentido. Essas citações poéticas (musicais ou literárias) me encantam! *-*

    Obrigada! Também achei lindo! *-*
    Tenho escrito baastante mesmo, inspirações, melhor aproveitar! ;D

    Beijo e obrigada pelas visitas! :D

    ResponderExcluir